sábado, 9 de junho de 2012

Seca é a soma do que evapora com o que as plantas e animais transpiram

 Fonte: Rede Globo - Ação

Fenômeno que assola o semiárido é estimulado pelas condições climáticas


Antes de falar sobre seca, a gente tem que entender que existem duas definições importantes: tempo e clima.”
Magna Soelma Beserra de Moura, da Embrapa
Semiárido (Foto: Divulgação / Marcelino Ribeiro)
Com essa frase, a pesquisadora da Embrapa Semiárido Magna Soelma Beserra de Moura, engenheira agrônoma que atua na área de agrometeorologia, determina qual o maior responsável pela seca que sempre assolou e é uma das maiores características do semiárido: o clima. Designa-se como tempo as condições atmosféricas em um dado momento, enquanto as condições climáticas são medidas em uma determinada região durante um longo período. Para caracterizá-lo, é necessário um estudo de pelo menos 30 anos.
No semiárido, na região de Petrolina, Pernambuco, faz 49 anos que o clima vem sendo analisado. Já se sabe que a seca é um fenômeno climático causado pela ausência de precipitação ou quando ocorre chuva em quantidade insuficiente por um longo período. Nessas ocasiões, a evapotranspiração, que compreende o somatório da evaporação do solo e da transpiração das plantas, ultrapassa a precipitação pluviométrica, provocando alterações no ciclo hidrológico e, consequentemente, na vida das pessoas que dependem da água de chuva.
“Para caracterizar o clima, é necessário fazer a medida dos elementos meteorológicos no tempo. Para caracterizar a seca, é importante analisar os totais de chuva e compará-los com a normal climatológica. Há anos em que chove mais e outros em que chove menos do que a média. Mas, uma coisa é certa: no semiárido sempre ocorre seca, pois mesmo quando chove em torno da média durante a estação chuvosa, que dura em média de quatro a seis meses do ano, há um período complementar de seca com duração de oito a quatro meses, quando não chove ou quando ocorrem valores de precipitação muito baixos. Assim é a climatologia do nosso semiárido”, explica Magna.
Mapa do início da quadra chuvosa (distribuição
de chuvas em relação ao tempo) do Nordeste
do Brasil (Foto: Divulgação)
Os períodos de chuva no Nordeste são variáveis (Mapa). Em Petrolina - PE, onde se localiza a sede da Embrapa Semiárido, bem no centro da Região Semiárida do Brasil, as chuvas costumam começar em novembro e parar em abril; por outro lado, mais ao norte, em parte do Ceará e do Rio Grande do Norte, o período chuvoso vai de janeiro a junho. Em termos de valores, a precipitação média, dos últimos 49 anos em Petrolina, foi de 550 milímetros de chuva por ano, sendo nesse período, já ocorreu um ano em que choveram 1.023 milímetros (máximo) e outro em que se observou apenas 187 milímetros.
“Quando a chuva cai em novembro, alguns poucos produtores começam a plantar para que possam colher já no início do ano seguinte, isso quando ocorrem chuvas médias e bem distribuídas ao longo dos meses. Mas quando se verificam pequenos períodos de seca durante a estação chuvosa, que são conhecidos como estiagem, podem resultar em redução da produção; e pior ainda ocorre quando há seca, pois o produtor nem se anima a semear a terra, e aqueles que se arriscam acabam perdendo toda a produção.
Há vários fatores que atuam para que haja precipitação pluviométrica. No Nordeste, o principal sistema responsável pela quantidade e intensidade das chuvas e a Zona de Convergência Intertropical - um cinturão de nuvens formado pela confluência dos ventos alísios que se desloca durante o ano nos sentidos norte e sul, sendo que quando se encontra nesta mais ao sul promove a ocorrência de chuvas no Nordeste. Temos ainda a influencia dos fenômenos El Niño e La Niña, que ocasionam mudanças na circulação atmosférica, possibilitando mudanças na pressão e no deslocamento das massas de ar. Em geral, a ocorrência do fenômeno El Nino tem sido associada às secas no Nordeste, por outro lado, a La Nina tem associação com chuvas acima da média. Além desses, a temperatura da superfície do Oceano Atlântico também influencia a formação de nuvens, e por conseguinte, as chuvas. "Quando mais quente está o Atlântico, maior é a evaporação e a formação de nuvens, e por sua vez as precipitações”, explica Magna.
O semiárido enfrenta a maior seca dos últimos 49 anos. Considerando o ano hidrológico para a região de Petrolina, o volume pluviométrico registrado foi de apenas 114 milímetros ocorridos entre novembro de 2011 e abril de 2012. É o maior evento de seca seguido da que assolou a região em 1976, quando choveram 184 milímetros e em 1993, cujo total precipitado foi de 187 milímetros, também considerando o período de novembro a abril.
“Este ano tudo convergiu para que a chuva fosse mais escassa. Agora, dificilmente pode ocorrer chuva entre junho e outubro; e se chover será com intensidade baixa, na faixa de 11 milímetros mensais, como tem sido observado na maioria dos anos. E isso é muito pouco para fornecer água para o solo, para as plantas, para os animais e para a população. Dificilmente os açudes e as cisternas ficarão abastecidos com água de chuva”, lamenta Magna.
Além das cisternas, a Embrapa Semiárido trabalha com uma série de outros programas e tecnologias para amenizar os efeitos da seca. As barragens subterrâneas, as técnicas de captação de água de chuva in situ, são algumas delas. Quando os produtores têm acesso a essas tecnologias os impactos dos períodos de estiagem e de secas são reduzidos ou postergados, tanto para as famílias quanto para as plantas e os animais.
 

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